domingo, 31 de julho de 2011

Que lembranças?

Algumas pessoas – seriam todas? – têm dificuldades para lembrar ou guardar dados em sua própria memória.

Eu me lembro – ainda! – que, numa das várias mudanças que tivemos numa empresa em que trabalhei, uma orientadora passou a “dica” de que, para aquele novo trabalho, “era fundamental não guardar nada de cabeça”.

E também que não utilizássemos nada daquilo que lá chamávamos de “burrinho” (conjunto de anotações consideradas importantes sobre determinados serviços).

A explicação que ela apresentou para essa orientação foi que as instruções de trabalho são dinâmicas, mudam toda hora e que dependem muito dos ambientes legais e conjunturais em que estão inseridas e submetidas.

Então, não seria errado concluir que dois projetos idênticos poderiam ter tratamentos diferenciados, dependendo da época de suas aprovações.

Tinha lógica.

Naqueles dias eu encontrava muitas dificuldades para absorver e guardar todo o volume de informações referentes às novas rotinas que tinha que aprender. Por isso, aprendi rápido onde encontrar as informações que precisava.

Por vezes sabia o livro, capítulo, título, etc., mas os consultava a cada ocorrência, para garantir a temporalidade da instrução.

Essa prática foi muito útil, pois garantiu a aplicação das rotinas corretas nos trabalhos executados e a segurança dos envolvidos.

Em julho de 2011, a revista Science divulgou pesquisa de Betsy Sparrow, et al, sobre “Os efeitos do Google na memória: consequências cognitivas de ter a informação ao alcance dos dedos.” Vale consultar.

Então, para analisar, ficam algumas questões:

Será que estamos condenados a abolir o uso das técnicas do palácio da memória e a dependermos somente de informações guardadas externamente ao nosso cérebro?

Por que caminhos anda a nossa capacidade analítica, se temos que consultar e inter-relacionar dados armazenados fora da nossa própria memória?

sábado, 2 de julho de 2011

Uniões homo afetivas

Tenho muitos amigos gays. Assumidos ou não. Enrustidos, entendidos, dissimulados, engavetados ou escondidos dentro dos seus armários, e também muitos casais héteros com relacionamentos homo-clandestinos, extra-oficiais, seja entre eles, seja entre elas.

Acompanho com certa curiosidade a evolução dos acontecimentos que culminaram com a oficialização(?) das uniões gays aqui no Brasil.

Mas tudo ainda está só no começo. Ainda mais considerando que por aqui o que se deve procurar é o consenso a nível nacional. E o país tem grande dificuldade de digerir decisões do nosso Supremo Tribunal Federal, onde parece que nem todos os pensamentos estão representados. E as decisões que dali emanam devem representar o que nossos legisladores conseguiram registrar do comportamento do nosso povo, e também tem que servir de modelo para as decisões das primeiras instâncias.

No caso da união civil homossexual, a matéria – controversa que é – gerou todo tipo de polêmica, e a decisão final foi pela legalização dessas uniões.

Era o que bastava. Iniciou-se assim uma rotina de comemorações, de casa e descasa, cujos procedimentos ainda tem que ser definidos ou padronizadas de alguma maneira. Uniões registradas aqui, canceladas ali, entendimentos diferentes em relação ao do STF, coisa que o pensamento regionalizado e as diferenças morais não conseguiram registrar no âmago dos nossos magistrados, ou mesmo que foi vencida em processo decisório democrático.

Parece que isso ainda promete muitas discussões até que tudo entre nos eixos, até que todos os entendimentos “estejam em uníssono” (emprestando aqui o significado de igualdade de sons da teoria musical); e ainda pode rolar muita água por baixo dessa ponte.

Nos Estados Unidos, decisões sobre uniões homo afetivas ocorrem a nível estadual: alguns estados já aceitam, ainda que com algumas diferenças, e há outros que não aceitam de jeito nenhum...

Aqui no Brasil, vi que a Receita Federal foi uma das primeiras instituições a aceitar essa situação (seria com intenções indiretas de ‘aumentar a receita’?). Depois, alguns convênios médicos resolveram também acolher como dependentes os envolvidos nesses relacionamentos, alguns acompanhando a decisão da Receita, outros como decisão nova mesmo, talvez já antecipando os resultados dos acontecimentos.

Além das elocubrações culturais, filosóficas, morais e religiosas que o assunto proporciona, há também algumas de cunho fisiológico. Como já citei neste blog, numa certa ficção científica há uma personagem auto-suficiente do ponto de vista de reprodução da sua espécie. (Procure saber sobre o filme “Inimigo Meu”, já citado neste blog, no post sob o título “Dominar o Mundo”).

E já que a nossa humanidade (ainda) depende de dois sexos diferentes para a reprodução e preservação da espécie, independentemente de todas as outras questões morais e religiosas já citadas, e muito embora pessoalmente eu não tenha nada contra a união civil homossexual, há de se pensar então que estaríamos no fim da nossa jornada? Estaríamos no começo do nosso fim? Porque, até onde me lembro, ainda não vi registros de descendentes biológicos diretos advindos de uniões homossexuais.

Seria esse um pensamento homofóbico? Eu acho que não.

Pode ser que minha percepção ainda esteja míope, não esteja vendo tudo o que importa. Mas o que percebi até agora é que nossos magistrados – e nossa sociedade, por assim dizer – querem tornar válidos, para todas as uniões homoafetivas, direitos civis que antes valiam somente para casais de sexos diferentes.

Por exemplo: registro como dependentes econômicos, direitos de herança e sucessões em geral, aposentadorias e pensões, direito ao respeito e tolerância na convivência com tantas diferenças, e é claro, tudo com os respectivos deveres daí decorrentes.

Para que a sociedade como um todo aceite e processe todas essas modificações comportamentais, ainda vai demorar muito tempo, principalmente entre os segmentos mais reacionários, os mais conservadores e as instituições religiosas em geral...

Mas uma coisa é certa: enquanto não tivermos entre nós o nosso ‘Jeriba Jerry Shigan’, ainda vamos discutir muito esse assunto.