quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Mal Necessário?

Dureza esse negócio de trocar de carro!

Quando não se tem tempo ou vocação para vender carros, então não se pode reclamar de ter que se submeter a um ”comerciante de veículos de confiança” – se é que existe algum!!!

Estranhamente, só nós é que não sabemos o valor do nosso carro. É como se atribuíssemos a ele um valor maior porque agregamos o coeficiente emocional. No entanto, se o negócio é uma necessidade, o que se há de fazer? Afinal, o automóvel é um objeto de consumo que precisa ser renovado periodicamente.

Lembro-me que certa vez fui a uma “feirinha” de automóveis que acontecia aos domingos perto de casa. Fui todo cheio de culpa por não oferecer um carro em melhor estado do que aquele que eu precisava vender. E chegando lá vi tantos carros piores do que o meu que até tive dúvidas se os seus donos iriam conseguir vender aquilo para alguém... Será que alguém compraria aquelas latas-velhas?

Cheio de cuidados, perguntei a um dos vendedores:

- Será que você vai encontrar alguém pra comprar o seu carro?

Ele me olhou com curiosidade e determinação, decretando:

- Tem comprador pra todo tipo de carro!

E ele tinha razão. Conseguiu vender um Corcel caindo aos pedaços e eu não consegui vender meu Fusquinha bonitinho...

Neste mês decidi trocar de carro. Obtive informações que não são do meu dia-a-dia. Tabela Fipe, mercado, anúncios na internet e tudo o mais. Tinha comprado meu carro por 43. Na época era o preço, um pouco acima, “devido ao bom estado de conservação”, segundo informou o vendedor. Nesse entretempo teve variações no mercado, mudanças nos modelos de veículos, uso do carro com o respectivo aumento da quilometragem, crise mundial, redução do IPI e tudo o mais. Consequências? Meu carro ficou valendo só 27. E pra comerciante aceitar em negócios, só 24. Onde isso iria parar?

Fui à busca. Perdi muito tempo, gastei muita gasolina, fiz viagens de inspeção e nada de achar o carro que eu queria...

Por fim encontrei um. Fiz propostas, fiz birra e tudo mais, reclamei de taxas, tarifas, briguei, com os números – que nunca batem - mas não adiantou nada: Acabei comprando assim mesmo! Afinal meu carro estava sub valorizado pelos diversos fatores já citados e o que eu encontrei e consegui comprar está um pouco mais caro, “devido ao bom estado de conservação”, segundo informou o vendedor...! Vejam só! Algumas coisas não mudaram!

Agora sossego mais alguns anos.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um passeio pela mata e o aquário do meu neto.

Fiquei alguns dias sem passear pelo Parque Linear do Ribeirão das Pedras.

Ontem retomei o percurso e fui de casa até a rodovia D. Pedro. Notei que aqueles trechos que relatei anteriormente como passíveis de erosão já estão com esse processo bem adiantado, tornando perigoso o trânsito de pedestres e bicicletas.

Algumas árvores não resistiram e caíram, inclusive obstruindo parcialmente o caminho. Há buracos enormes que podem provocar mais deslizamentos. Tudo isso sem contar a falta de manutenção da trilha, que está sendo retomada pela mata.

Hoje, ao limpar o pequeno aquário do meu neto, resolvi trazer para os peixinhos um pouco da água da nascente do ribeirão. Resolvi também trazer uma plantinha parecida com agrião, que dá em brejos, e colocar um raminho no aquário.

Foi uma aventura e tanto o ato de procurar o tal raminho numa margem acessível do pequeno córrego. Fui de bicicleta até aquele lago artificial já relatado em outras intervenções e quase fiquei por lá mesmo, já que afundava um pouco a cada pedalada e depois a cada passo tentando voltar... Confesso que fiquei com um certo receio de cair no brejo.

Mas os peixinhos agradeceram.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O velho e o mar

Outro dia li ‘O velho e o mar’, escrito por Ernest Hemingway em 1952.

O livro relata o dia-a-dia do velho pescador Santiago e seu fiel companheiro, o garoto Manolin.

Certa feita, Santiago saiu sozinho para sua pescaria, levando consigo sua grande experiência em navegação marítima e a determinação de um vencedor. Naquela pescaria encontrou um adversário à altura, um peixe espadarte, que lutou por sua vida com a honestidade do guerreiro, já velha conhecida de Santiago.

O velho sobreviveu com dificuldades e, aos farrapos, teve que utilizar toda sua experiência em lidar com adversidades para conduzir o barco novamente à sua praia, vários dias depois, quando todos já davam por finalizada a carreira de velho pescador.

Na sua luta pelo peixe, enfrentou tubarões, golfinhos e toda sorte de adversidades, mas foi paciente e perseverante, para conseguir manter a posse do peixe e depois manter sua própria vida.

Durante as lutas e o retorno, tubarões abocanharam toda a carne do espadarte e só sobrou mesmo parte de seu esqueleto, como que um troféu comprovando sua aventura.

Muito bom notar a vontade de lutar pela sobrevivência, a garra, a honestidade e o respeito pelo adversário nessa luta entre o velho e o espadarte. Ali Santiago percebeu o quanto foram boas as experiências adquiridas nas investidas anteriores, ainda que antes não tivesse encontrado um peixe assim tão grande; percebeu também a falta do companheiro Manolin; reconheceu que poderia ter treinado melhor a outra mão, mas que agora não adiantava reclamar; reconheceu que faltaram ferramentas que teriam sido úteis na luta pelo peixe e pela vida. Reconheceu suas limitações, quando por vezes achou que estava perdendo a peleja. Por fim, foi salvo pelo conhecimento das correntes marítimas e dos costumes dos peixes.

Santiago foi salvo pelo conhecimento.

sábado, 30 de outubro de 2010

Eleições, finalmente

Hoje é o último dia antes do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil.
E amanhã mesmo já saberemos quem será o novo ou a nova Presidente.

Outro dia comentei sobre uma eventual terceira via ou uma possível composição que liquidasse o tema logo no primeiro turno, barateando assim o processo eleitoral. Só que a coisa não aconteceu assim e o que se deu foi um fenômeno interessante: Três candidatos se destacaram (um luxo, segundo Jacques Wagner, governador reeleito da Bahia), mas a regra só permite a participação dos dois primeiros num eventual segundo turno.

Daí a disputa pelos eleitores do terceiro colocado se torna o principal foco dos dois primeiros. Dessa forma, cada um desses dois se declara “o mais parecido” com o terceiro e o apoio formal do vencido é sempre aguardado com muita expectativa. Só que isso também não ocorreu. Além disso, cada voto representa a vontade de um eleitor e por isso não é possível redirecioná-lo para este ou aquele candidato. Se fosse assim, não precisaria segundo turno, bastando apenas a declaração formal do terceiro colocado para que os seus votos fossem automaticamente transferidos para o apoiado declarado. E neste caso a eleição estaria exclusivamente nas mãos do terceiro colocado, que decidiria o que fazer com a totalidade dos votos que recebeu. E dessa forma, ele poderia sozinho eleger o segundo colocado, transformando o primeiro em terceiro... É muita filosofia...

E é claro que nem dá pra imaginar a lista enorme de consequências advindas dessa “simples” decisão.

-“ Só transfiro meus votos mediante essa ou aquela condição...”

Nesta semana tivemos a votação que poderia definir o destino da lei da “ficha limpa”. Assisti com interesse à sessão do plenário do STF sobre o caso do Jader Barbalho, candidato eleito ao Senado pelo Pará. A decisão seria importante porque, além de decidir o futuro do candidato em questão, criaria jurisprudência para outras decisões análogas país afora.

Só que o plenário está temporariamente com apenas dez magistrados investidos, tendo uma vaga a ser preenchida através de nomeação pelo Presidente da República.

E o resultado foi empate, cinco votos contra, cinco a favor. O Presidente do STF abriu mão de utilizar seu direito de “Voto de Minerva”, mas o plenário concordou em manter a decisão já tomada anteriormente pelo TSE, de barrar a candidatura do Senador. E isso valerá então para os casos semelhantes que forem julgados daqui pra frente.

Parece complicado isso, não é?

Citei isso para comentar como é difícil o processo decisório num colegiado, especialmente quando o número de seus pares é par, e, além disso, todos com um perfil muito forte de liderança, com opiniões muito bem fundamentadas e melhor ainda explicitadas... e ainda mais quando se tem por parâmetros legislação elaborada pelo congresso, cuja redação admite tantas interpretações quantos forem os advogados contratados...

Fiquei então imaginando se amanhã, perante as urnas, cada eleitor tivesse que justificar seu voto (votei neste por aquele motivo ou não votei naquele porque é muito feio...), com direito a réplicas e tréplicas...

Mas ainda bem que não é assim. Na hora do voto, eu só registro minha intenção.
E se der tudo errado, conversamos depois.

Democracia é assim.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ribeirão das Pedras - II

Fiz antes um registro sobre o Ribeirão das Pedras, que nasce perto de casa. Houve uma descontinuação no relato e por isso trago novidades. Continuo acompanhando o curso inicial do riacho e verifiquei o seguinte: aquela primeira ponte-que-não-era-ponte, citada no relato anterior, foi reformada. Houve uma grande movimentação de terra para adaptação do terreno à nova configuração do conjunto, mas o buraco que sobrou ainda é enorme. Antes de atravessar por baixo da rua, o riacho ainda não encontrou o caminho redesenhado pelo homem e insiste em não aceitar a mudança. Mas a água chega ao outro lado, passando ainda não vi por onde... À esquerda, logo após a tal ponte, a Sanasa havia construído uma estação elevatória de esgoto, que, mesmo estando bem pertinho, não faz parte do complexo.

Estamos na entrada da primavera. Ontem foi 21 de setembro – dia da árvore - e recebemos na praça da nascente do nosso riacho a visita de prefeitos e secretários de cidades da região. Eles fizeram o lançamento simbólico de uma campanha para o plantio de novas árvores para recomposição da mata ciliar no Ribeirão das Pedras. Na verdade trata-se de um projeto maior, que, através de um convênio entre a Petrobras-Replan (Refinaria de Paulínia), o Shopping D. Pedro e algumas prefeituras, prevê a recomposição das matas ciliares dos conjuntos hidrográficos que banham Campinas, Piracicaba, Jundiaí e mais algumas cidades da região.

Estiveram presentes alunos de duas escolas de Campinas para efetuar o plantio simbólico das árvores. Curiosamente, uma das escolas é o Colégio Rio Branco. No relato anterior, citei que nem todas as propriedades respeitavam o limite imposto pelo riacho para eventuais movimentos laterais. Essa escola é uma dessas propriedades: pelo que observei, seus muros já avançam sobre o riacho, no bairro de Barão Geraldo.

O evento foi registrado pela reportagem da Prefeitura de Campinas e pode ser consultado através do link:

http://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?id=3387

Tenho acompanhado também, através de passeios de bicicleta com o meu neto, o trecho do riacho que segue até a região do Shopping D. Pedro. No relato anterior citei um incidente com um lago artificial; foram executados alguns serviços para sua recuperação. Confesso que não entendi muito a movimentação de terra e nem o resultado obtido. O serviço foi executado durante uma longa estiagem e a impressão inicial era que o objetivo era formar uma ou duas ilhas no lago. As máquinas foram retiradas e o serviço entregue (ou teria sido abandonado?).

Ontem, após uma estiagem de mais de 50 dias, choveu copiosamente no início da noite. As árvores recém plantadas na manhã pelas crianças, já tiveram sua primeira prova de resistência. Uma delas sucumbiu (mas já foi reerguida). O lago reformulado, optou por uma configuração natural mesmo: parece não ter gostado do serviço executado.

Hoje, em passeio de inspeção com o meu neto, verifiquei que a chuvarada limpou toda a região da mata que sofreu com queimadas durante a estiagem, provocou a continuação de diversas erosões já anteriormente iniciadas e mostrou como quer que fique o lago artificial: houve muita movimentação de terra e o assoreamento recomeçou. Vamos ver no que vai dar isso. Bom mesmo foi notar algumas garças margeando a região do lago, bem como muitos sapos saltitantes festejando a chegada da primavera.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ler e entender

Quando me propus abrir este blog, meu diabinho particular falou assim:
- Deixa isso pra lá! Não vai dar certo! Quem é que vai ler isso?
Mas eu queria escrever assim mesmo, ainda que ninguém lesse. Era um desafio. Considero o ato de “escrever” um grande desafio. Veja por quê: Li centenas de livros. Aí às vezes encontro alguém que também leu um livro que eu li. Mas quando ele conta o que entendeu, nem parece que foi o mesmo livro:
- Será que estamos falando da mesma coisa?!...
Cada um tem uma experiência particular de leitura. Essa experiência tem influencia da bagagem adquirida anteriormente pelo leitor. Então, para um mesmo livro, diversas leituras...
Em janeiro de 2009 tomava posse o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama. Isso foi assunto pra muita notícia. Escolhi só o título de uma, da Agência de notícias AFP©, de Nova York, EUA, que dizia:
“Michelle Obama veste Isabel Toledo” – dois nomes unidos por um verbo.
Vamos às interpretações:
Isabel Toledo não sabe se vestir!
Isabel Toledo não pode se vestir sozinha! Deve ter algum problema...
Por que Isabel Toledo precisa da ajuda de Michelle Obama para se vestir?
Michelle Obama é a costureira (ou a camareira) da Isabel Toledo!
Quem é essa Michelle? Será parente da Isabel?
E por aí vai...
Viu só como é complicado? Cada um entende como quer, ou como é capaz de entender. Há também quem não saiba quem seja Michelle Obama...
Escrevi durante um período um livro de instruções sobre rotina de serviços para uma empresa na qual eu trabalhava. Tinha que escrever de tal forma que um empregado do sul entendesse e fizesse os mesmos procedimentos que um do nordeste ou do centro-oeste. O padrão de segurança exigia que não houvesse margem para dupla interpretação. Mas às vezes acontecia alguma coisa e o mesmo texto que indicava um procedimento servia para proteger o funcionário que leu e entendeu de uma maneira diferente...
E mais: pode ser que alguém leia este meu texto no meu blog e entenda tudo às avessas...
Em tempo:
Isabel Toledo é uma estilista americana de origem cubana, que desenhou o vestido da esposa do presidente para a festa da posse.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Eleições 2010 - Terceira via

Vejam só:
Outubro de 2002 – Pesquisa Datafolha indicava que Lula (oposição) abria vantagem sobre Serra (candidato da situação) – 66% a 34%.
FHC ficou dois mandatos, elegeu um substituto, mas não o seu...
Agosto de 2010 – Pesquisa Ibobe indica que Dilma (candidata da situação) abre vantagem sobre Serra (hoje candidato de oposição). A mesma pesquisa indica que Lula poderia eleger seu substituto já em primeiro turno, com 51% a 38% dos votos válidos, se a eleição fosse agora.
Lula também ficou dois mandatos.
Quando olhamos os dados acima, temos a impressão que já está tudo encaminhado, com Lula elegendo Dilma em primeiro turno.
Será que as urnas vão confirmar essa impressão? Onde está o diferencial que provoca essa impressão? Seria a condução e a habilidade políticas de Lula? Seria uma falha na condução política das oposições? E onde estão os outros partidos? Será que nenhum outro poderia encabeçar uma chapa que representasse melhor os desejos da oposição?
O PT teve e tem divergências internas, mas parece estar unido em torno de Lula. Por outro lado, os partidos de oposição têm os seus motivos. Alguns são fisiológicos. Outros não querem ter a vocação para liderar uma chapa que represente melhor as propostas da oposição. Outros deixam transparecer vaidades internas e rachas que impedem a formação de uma chapa mais representativa.
Considerando que desta vez tem uma candidata da 3ª via com 8% a 10% do eleitorado, então por quê ninguém pensou em Aécio Presidente com Marina Vice? Ou então Marina Presidente com Serra Vice? Ou mesmo vice versa??
É. Parece que vai dar PT mesmo.
Democracia tem cada coisa!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Aposentadoria

João precisava decidir-se sobre a aposentadoria e andava curioso sobre como seria essa passagem. Por isso ligou para um colega que já usufruía dessa regalia há alguns meses. O colega resumiu:
- Eu nem sei que dia é hoje!
Poucas vezes alguém conseguiu fazer uma declaração tão cheia de significado com tão poucas palavras! E João percebeu assim a liberdade que o colega estava desfrutando: estava livre das segundas-feiras, dos compromissos das quintas, das reuniões de trabalho, das viagens a serviço, das prestações de contas...
Nos primeiros dias, João também passou pela mesma experiência. E hoje já percebe que os compromissos continuam existindo, alguns mais urgentes, outros menos. Mas nenhum pra ontem!
Todo tempo do mundo só pra ajudar.
Ajudar é o verbo de João.

Sobre a ajuda

- Se tivesse alguém pra trazer a televisão lá de baixo e trocar por esta que já não funciona mais...
Não precisou ouvir duas vezes. João saiu atropelando o tio, subiu e desceu as escadas, trocou rapidamente as TVs e, ao ligá-las, observou que as duas funcionavam perfeitamente. Intrigado, perguntou:
- Qual era mesmo o defeito da televisão, tia?
- Não aparecia a imagem.
João efetuou os ajustes na antena e deixou tudo funcionando direitinho. Faltava somente o controle remoto.
- Cadê o controle?
As pilhas tinham acabado. Era necessário substituí-las.
- Tio, o senhor tem pilhas novas?
- Tenho. Vou procurar. – Então, demonstrando muita habilidade, ele desceu as escadas, tateou tudo na prateleira e disse, por fim, que não tinha pilhas daquele tamanho.
João resolveu conferir:
- Onde é mesmo que o senhor guarda as pilhas?
- Na prateleira, sob a escada.
João verificou que havia pilhas suficientes para trocar oito vezes o conjunto do controle! Então substituiu as pilhas velhas por outras novas e tudo ficou muito bem.
Tia Maria, acamada há meses, e tio João, nocauteado pelo glaucoma, moram sozinhos e ficaram muito agradecidos pela ajuda.
Às vezes, gestos tão simples que achamos insignificantes são de muita valia para quem vive realidades diferentes, como no caso relatado acima

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Super poderes

Primeiro uma consulta com ortopedista. Exames indicaram uma moderada escoliose dorso lombar, cujo tratamento incluiu um colete de aço e uma palmilha de meio centímetro para acertar o comprimento da perna esquerda.
Mas a escoliose continuou lá, acentuada como nunca. Parece até que houve um deslocamento lateral a partir dos ossos do quadril.
Depois foi uma série de pneumotórax que levou-lhe um quinto do pulmão maior. Por isso, João reclama que todo oxigênio do mundo ainda é pouco para ele...
Tem também um coraçãozinho preguiçoso que insiste em bater redondinho 41 vezes por minuto. Já foram pesquisados motivos, mas nada de motivos. Nem Chagas, nem problemas com a condução elétrica, nada de taquicardias. Pressão a 100 x 60.
- Você tem coração de atleta - disse o Doutor.
João desconfiou do elogio. Seria um elogio mesmo? Pesquisando, verificou que corações de atletas pulsam mais devagar, pois vivem economizando para quando precisarem bater mais.
- Talvez eu seja um mutante! – pensou ele então. E continou: - Imagine se me aparece o Volverine e pergunta:
- Qual é o seu poder?
Daí João explicaria: Vontade de ferro, nada de medo, clareza só o suficiente. E a ajuda de Deus, é claro.
Simples assim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

São Silvestre

Houve uma época em que eu trabalhava de madrugada. A empresa era na Chácara Santo Antônio e quase sempre eu ia de bicicleta. Eram quinze quilômetros de boas pedaladas.
Certa manhã, quando retornava do trabalho, um ladrão roubou minha bicicleta.
Dali pra frente, adquiri o hábito de correr a pé mesmo. Quando dava tempo, lá estava eu, pelas ruas e avenidas da cidade, correndo sem maiores preocupações. Foi assim que aprendi a gostar de corridas de rua.
Algum tempo depois, um amigo me convidou para participar da corrida de São Silvestre.
- Não dá! – retruquei. - É muito longa essa corrida!
- Você consegue! Vamos fazer a inscrição!
Então eu fui. E o dia da corrida foi dia de festa. Não precisava vencer: a meta era só correr até o final. Foi quando alguém gritou:
- Começou!
Tumulto geral. A multidão era muito grande: muita gente correndo e se atropelando; muita gente só observando! Para começar de fato levamos quase dez minutos. Mas antes mesmo que passássemos pela Av. Ipiranga, meu amigo reclamou de dores no joelho:
- Não vou conseguir. Você segue sozinho!
- Claro que não vou – eu falei – Começamos juntos, vamos continuar juntos!
E fomos assim mesmo, muitas vezes ele apoiado no meu ombro.
Paramos muitas vezes: água, gelol, faixas e massagens; e assim fomos até a linha de chegada, arrastando quase duas longas horas.
No dia a dia, aprendi que corredores são muito solidários.
Deus nos ajude!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Coral

Coral
Lá nos idos de 1969, alguns colegas e eu fomos fazer teste para cantar no coral do colégio. Quem cuidava da regência era uma freira que tocava harmônio no convento dela.
Caminhamos meia hora mato-a-dentro e chegamos a uma capela de arquitetura francesa que nos deixou fascinados. Era a capela do convento. De dentro, ouvíamos barulhos de pássaros e cachoeiras; e víamos, pelos perfis vazados e pelas vidraças, as folhagens das árvores que cercavam o convento.
Chegou uma freira – senhora muito séria e de bastante idade – que iniciou os procedimentos. O teste foi feito um a um e as respostas foram imediatas:
- Você serve!
- Você não serve!
O ambiente criado era tão austero que não permitia argumentação.
Eu nem tinha noção do que se passava. Apesar da inclinação por música, ainda não havia cantado em corais. Na minha vez, ela vociferou:
- Cante os sons que eu vou tocar no órgão: Lá, Lá, Lá, Lá ...
- Lá, lá, lá, lá...
- Você não serve!
Foi um choque. A sensação foi de uma tristeza profunda. Garoto tímido, deslocado, que não sabia jogar bola e ainda por cima não servia nem pra cantar... Envergonhado, fiquei vermelho como um pimentão e fui embora.
Mais de quarenta anos depois, resolvi criar coragem e fazer novo teste. Só que desta vez fui aprovado como tenor.
Antes tarde do que nunca.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Praça sem sentido

Encontro marcado.
Vinte minutos adiantado, já aguardo no local, ansioso:
- Agora vai!
Mas o tempo passa e nada...
Algumas horas antes:
- Preciso comparecer em carro oficial! -, fui informado pelo interlocutor ao telefone, enquanto marcava a entrevista e dispensava a carona que eu oferecia.
Então é isso. Vai ver que os carros oficiais estão todos ocupados e ele aguarda um que esteja disponível. E eu também continuo esperando, tentando afastar as dúvidas que já começam a pulular. Pode ser que eu não tenha entendido direito...
Observo, angustiado, os carros que entram e saem. Nenhum aparenta ser “oficial”.
Por fim, mais de quarenta minutos depois da hora aprazada, uma van estaciona do lado de fora. Dela desembarca um homem com um crachá de identificação: é ele!
- Olá, temos uma entrevista!
- O quê que é?
- Lembra, você me ligou marcando uma entrevista aqui.
- Ah! Ok. Vou ali ver o pessoal e em seguida falamos.
Novamente aguardando. Ele conhecia todos dali e foi como se aproveitasse para rever velhos amigos.
Percebi que o contato tinha sido efetuado para cumprir mera formalidade e que o que ele esperava mesmo é que eu nem tivesse comparecido.
Algum tempo depois ele retornou e já ia embarcando novamente, “de fininho”, quando o abordei:
- E a entrevista?
Percebi ligeira irritação e uma vontade de ir embora nas feições dele. Pelo que entendi, ele não gostaria de registrar uma ocorrência na qual prejudicasse direta ou indiretamente seus colegas de trabalho. Eu conheço bem esse corporativismo. Tentei argumentar:
- Olhe: fizemos alguns testes, tenho tudo registrado em vídeo. Foi um sucesso. O pessoal que utiliza o centro aprovou as providências, mas, como prevíamos, teríamos um ajuste a fazer. Um ajuste de pequeno vulto, que só depende de uma decisão administrativa e uns telefonemas. Não precisa aprovar lei nem orçamento, porque isso demoraria demais...
Aí ele me interrompeu:
- Ok. Reconheço seu empenho. Mas temos uma proposta da DFREN para acertar isso: seria a remodelação da praça, com a alteração do nome para “Praça dos Sentidos”. Não podemos perder essa oportunidade por causa dos recursos envolvidos. Se arrumarmos uma solução caseira vamos perder essa oportunidade... e tal e tal...
- Mas e, enquanto isso, os acidentes vão acontecendo?!? ...
Não adiantava argumentar mais.
Vencido, retornei frustrado.
Enquanto conversávamos, alguns cachorros chegavam acompanhados pelos seus donos para aprender a sentar. Esses, sim, eram importantes, tanto que cruzavam todo o hall de atendimento, enquanto deficientes aguardavam atendimento de um médico que não compareceu naquele dia...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A culpa é do sistema?

Naqueles dias...

Todos nós dependíamos das listagens geradas pelos computadores centrais. Eram toneladas de papeis que vinham dos CPDs e que tinham que chegar antes do horário de abrir para os clientes.

Então, quando chegavam os malotes, era uma festa! Cada departamento verificava se tinham chegado seus relatórios com os documentos pertinentes. Às vezes tinham, às vezes não. E, quando não:

- Será que vai ter retomada?

- Será que rodaram todos os sistemas?

- Liga pro ‘Seu Zec’!!

- Mas já é a terceira vez! O que é que eu vou dizer para o cliente?

- Oras, que a culpa é do ‘Seu Zec’!

Pobre ‘Seu Zec’! Às vezes ele próprio tinha que aguardar instruções de um tal de “Seu Dip”... Daí sim que era demorado...

Mas ruim mesmo era atualizar tudo provisoriamente, com anotações em letras góticas, garranchos e hieróglifos - cada um tinha uma letra mais feia que a do outro -, e pior ainda era entender aquilo tudo depois!

- “Menos tanto na conta de Fulano, mais tanto na de Beltrano... Será que rodou o INSS?“

Como mudaram as coisas, não é mesmo? E olha que o ‘Seu Zec’ já faleceu a muito tempo!

Hoje é assim:

- O sistema está fora!

Então a culpa é do “sistema”!

sábado, 12 de junho de 2010

Bom exemplo!

Meu colega de trabalho vendia pães especiais nas horas vagas.
- De ótima qualidade e procedência, dizia ele!
E vendia mesmo!
Sempre admirei seu entusiasmo com seus projetos. Antes da ocupação atual ele já tinha trabalhado com tudo. Até motorista de ônibus já tinha sido.
Segundo relatou, um dia resolveu fazer supletivos para concluir os estudos e fez faculdade de economia. Mostrou-me um TCC de muito boa qualidade. É um ótimo pensador.
Em visita à sua casa, verifiquei também que, mesmo depois de tudo isso, ele ainda tinha resolvido aprender a tocar piano, violino, e vai saber mais o quê!
Um bom amigo, um bom exemplo!

Jabulani

Sala silenciosa, ambiente de hospital.
Enquanto aguardava atendimento, uma TV mostrava Estados Unidos versus Inglaterra, pela primeira rodada da copa de futebol deste ano. Já estava 1 x 0 para Inglaterra, quando, de repente:
- Goool!!
E muitos comentários quebraram aquele silêncio imperioso.
Três garotos também viam a partida e eu já tinha percebido que eles estavam “bem preparados” para esta copa, pois usavam camiseta da seleção brasileira!
Na hora do gol, foi imediato. Um deles falou:
- Foi a jabulani! Eu nunca vou comprar uma jabulani!
Como meu neto havia me distraído na hora do lance, fiquei por entender, mas não mais do que por dez segundos.
- Que frango!
Ah, bom!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Garbage in garbage out

03 de junho de 2010

Certa feita...

O cenário era assim: quem não tinha diploma de datilografia com especialização em mecanografia e não conhecesse as Remingtons, as Olivettis e o papel carbono, se dava mal. Computador, só o central, que processava as pilhas de papéis que passávamos dias esperando retornar, rezando para que desse tudo certo.

Só que chegou a vez do computador XT, a mais poderosa máquina já aparecida até aqueles dias, e que parecia ser vendida por quilo, tamanho era o seu peso! Nós fomos escolhidos para receber uma! Lembro que nosso chefe não permitiu que nos aproximássemos das caixas que continham a poderosa máquina e os seus complementos, com medo que fizéssemos alguma besteira e estragássemos tudo... Isso foi uma frustração.  Essa pequena restrição durou mais de ano: computador encaixotado ao lado do telex.  Por isso o nosso primeiro contato com a máquina foi num ato de desobediência, atrevimento e desafio.

Depois disso, passei uns dias analisando, escrevendo e testando um programa para a empresa.  Coisa simples, feita nas horas vagas e às vezes após o expediente: um pequeno cadastro de clientes e umas rotinas que calculavam impostos e rendimentos líquidos para aplicações financeiras.

Daí chamei o meu amigo:

- Vem cá, Damião! Você vai aprender a usar e depois me falar sobre o programa que estou concluindo.

Sentado em frente à telinha CGA verde, ele observou bastante e viu que tinha um espaço para escrever o nome do cliente. Acima, uma linha informava: “Digite o nome do cliente e em seguida enter”.

Ele não teve dúvida. Escreveu: Geraldino dos Santos enter, com todas as letras... E depois ficou olhando pra mim, com olhar de interrogação: - “E agora?”

A culpa foi minha. Não tinha ficado claro pro Damião que era pra ele apertar a tecla “enter” do computador e não escrever e-n-t-e-r por extenso...

Pior de tudo foi ouvir seu comentário seguro e direto:

- Garbage in, garbage out!

Ocorrência

02 de junho de 2010

Outro dia efetuei um registro de um fator de risco num site da prefeitura daqui da cidade. Foi um exercício e tanto! Como vinha acompanhando um caso a quase dois anos, tinha inúmeros detalhes para relatar. E o fiz aqui mesmo, neste editor.  Depois copiei e colei no campo de registro da ocorrência, quando fui surpreendido pelo programa, que interrompeu o serviço e pediu pra eu resumir um pouco mais o caso... Ora bolas!

Sempre fui prolixo e vivo me policiando por isso: preciso ser mais sucinto. Mas quem diria que levaria uma bronca de um programa de computador, que o máximo que faz é contar as palavras do texto, sem se ater ao seu conteúdo?

Confesso que refiz umas seis vezes o texto, até que ele coubesse no pequeno quadrinho destinado ao registro da ocorrência.  E também acho que consegui me fazer entender, porque depois recebi uma resposta sobre o tratamento e acompanhamento da questão!

Se eu fiquei satisfeito? Claro que não.  Mas aí já é outra história.

Ribeirão das Pedras

30 de maio de 2010

Interessante!

Ontem resolvi fazer um passeio seguindo o curso de um riacho que nasce aqui pertinho de casa. Chama-se Ribeirão das Pedras.

Primeiro é uma biquinha, com água potável e muitos frequentadores.  Depois, um brejo, cheio de taboas e muito mato, onde meu cachorro já se perdeu mais de uma vez. Em seguida, um pequeno curso d´água. A menos de cem metros já dá pra ouvir o barulhinho da água passando. Depois a primeira ponte, que na realidade não chega a ser uma.

Não quis observar na ida – e nem na volta – um lago artificial formado a pouco mais de mil metros da nascente. Conheci sua origem, vi as obras para a construção da pequena barragem, percebi ali algum problema de nível, que acabou provocando um ajuste na obra de lá pra cá. Lá vivem peixes, aves e outros pequenos animais.

Depois tem o trajeto que passa ao lado do Shopping Center e vai até a rodovia, sob a qual passa nosso riacho. Procurando manter a maior proximidade com o riozinho, encontrei uma passagem sob a pista digna das piores imagens criadas por Tolkien em “O Senhor dos Anéis”.  Passei por ela morrendo de medo e somente sosseguei quando consegui sair, voltando. Prá frente não dava pra seguir. Era o fim da linha. A sensação do desconhecido era como estar encurralado... 

Tive então que abandonar o riozinho e encontrá-lo somente mais à frente, após um trecho de subidas e descidas pela nova entrada da Universidade. Lá o curso d’água já era bem maior. E também já apareciam as primeiras justificativas para o nome dado ao ribeirão: as pedras, em grande quantidade.

Vi a chegada em Barão Geraldo. Pelo caminho estranhei a cor daquela água. Vi muitas construções cujas muradas estavam sendo corroídas por baixo, quase levadas pelas águas. Vi também muitos caninhos e canões com suas “bocas” viradas para o riacho, às vezes despejando, às vezes nada...

Mais à frente, observei que tem gente preocupada com a vida do ribeirãozinho, e vi também algumas arvorezinhas recém plantadas às suas margens. Algumas traziam nomes numa plaquinha. Talvez das pessoas que as plantaram.

Na minha cabeça ficaram algumas imagens compreendidas e por compreender.

As partes naturais do ribeirão são muito mais bonitas que as partes que sofreram alguma intervenção humana.

Hoje é dia 30 de maio. Passando de carro pela região que forma o laguinho antes do shopping, verifiquei muitos carros ali parados, inclusive um da Defesa Civil. Daí também paramos para verificar o que ocorria. E lá foram minha esposa, minha filha e seu namorado. Enquanto eu fui fazer a volta com o carro, eles observaram e colheram o que se dizia de cima da pequena barragem: durante a noite alguém teria quebrado a barragem e a água toda do laguinho fluiu, quebrando todo o sistema que ali havia sido criado. Peixes morreram ou foram levados pelas águas, animais morrendo... Com certeza teremos notícias amanhã.