quarta-feira, 30 de junho de 2010

Super poderes

Primeiro uma consulta com ortopedista. Exames indicaram uma moderada escoliose dorso lombar, cujo tratamento incluiu um colete de aço e uma palmilha de meio centímetro para acertar o comprimento da perna esquerda.
Mas a escoliose continuou lá, acentuada como nunca. Parece até que houve um deslocamento lateral a partir dos ossos do quadril.
Depois foi uma série de pneumotórax que levou-lhe um quinto do pulmão maior. Por isso, João reclama que todo oxigênio do mundo ainda é pouco para ele...
Tem também um coraçãozinho preguiçoso que insiste em bater redondinho 41 vezes por minuto. Já foram pesquisados motivos, mas nada de motivos. Nem Chagas, nem problemas com a condução elétrica, nada de taquicardias. Pressão a 100 x 60.
- Você tem coração de atleta - disse o Doutor.
João desconfiou do elogio. Seria um elogio mesmo? Pesquisando, verificou que corações de atletas pulsam mais devagar, pois vivem economizando para quando precisarem bater mais.
- Talvez eu seja um mutante! – pensou ele então. E continou: - Imagine se me aparece o Volverine e pergunta:
- Qual é o seu poder?
Daí João explicaria: Vontade de ferro, nada de medo, clareza só o suficiente. E a ajuda de Deus, é claro.
Simples assim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

São Silvestre

Houve uma época em que eu trabalhava de madrugada. A empresa era na Chácara Santo Antônio e quase sempre eu ia de bicicleta. Eram quinze quilômetros de boas pedaladas.
Certa manhã, quando retornava do trabalho, um ladrão roubou minha bicicleta.
Dali pra frente, adquiri o hábito de correr a pé mesmo. Quando dava tempo, lá estava eu, pelas ruas e avenidas da cidade, correndo sem maiores preocupações. Foi assim que aprendi a gostar de corridas de rua.
Algum tempo depois, um amigo me convidou para participar da corrida de São Silvestre.
- Não dá! – retruquei. - É muito longa essa corrida!
- Você consegue! Vamos fazer a inscrição!
Então eu fui. E o dia da corrida foi dia de festa. Não precisava vencer: a meta era só correr até o final. Foi quando alguém gritou:
- Começou!
Tumulto geral. A multidão era muito grande: muita gente correndo e se atropelando; muita gente só observando! Para começar de fato levamos quase dez minutos. Mas antes mesmo que passássemos pela Av. Ipiranga, meu amigo reclamou de dores no joelho:
- Não vou conseguir. Você segue sozinho!
- Claro que não vou – eu falei – Começamos juntos, vamos continuar juntos!
E fomos assim mesmo, muitas vezes ele apoiado no meu ombro.
Paramos muitas vezes: água, gelol, faixas e massagens; e assim fomos até a linha de chegada, arrastando quase duas longas horas.
No dia a dia, aprendi que corredores são muito solidários.
Deus nos ajude!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Coral

Coral
Lá nos idos de 1969, alguns colegas e eu fomos fazer teste para cantar no coral do colégio. Quem cuidava da regência era uma freira que tocava harmônio no convento dela.
Caminhamos meia hora mato-a-dentro e chegamos a uma capela de arquitetura francesa que nos deixou fascinados. Era a capela do convento. De dentro, ouvíamos barulhos de pássaros e cachoeiras; e víamos, pelos perfis vazados e pelas vidraças, as folhagens das árvores que cercavam o convento.
Chegou uma freira – senhora muito séria e de bastante idade – que iniciou os procedimentos. O teste foi feito um a um e as respostas foram imediatas:
- Você serve!
- Você não serve!
O ambiente criado era tão austero que não permitia argumentação.
Eu nem tinha noção do que se passava. Apesar da inclinação por música, ainda não havia cantado em corais. Na minha vez, ela vociferou:
- Cante os sons que eu vou tocar no órgão: Lá, Lá, Lá, Lá ...
- Lá, lá, lá, lá...
- Você não serve!
Foi um choque. A sensação foi de uma tristeza profunda. Garoto tímido, deslocado, que não sabia jogar bola e ainda por cima não servia nem pra cantar... Envergonhado, fiquei vermelho como um pimentão e fui embora.
Mais de quarenta anos depois, resolvi criar coragem e fazer novo teste. Só que desta vez fui aprovado como tenor.
Antes tarde do que nunca.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Praça sem sentido

Encontro marcado.
Vinte minutos adiantado, já aguardo no local, ansioso:
- Agora vai!
Mas o tempo passa e nada...
Algumas horas antes:
- Preciso comparecer em carro oficial! -, fui informado pelo interlocutor ao telefone, enquanto marcava a entrevista e dispensava a carona que eu oferecia.
Então é isso. Vai ver que os carros oficiais estão todos ocupados e ele aguarda um que esteja disponível. E eu também continuo esperando, tentando afastar as dúvidas que já começam a pulular. Pode ser que eu não tenha entendido direito...
Observo, angustiado, os carros que entram e saem. Nenhum aparenta ser “oficial”.
Por fim, mais de quarenta minutos depois da hora aprazada, uma van estaciona do lado de fora. Dela desembarca um homem com um crachá de identificação: é ele!
- Olá, temos uma entrevista!
- O quê que é?
- Lembra, você me ligou marcando uma entrevista aqui.
- Ah! Ok. Vou ali ver o pessoal e em seguida falamos.
Novamente aguardando. Ele conhecia todos dali e foi como se aproveitasse para rever velhos amigos.
Percebi que o contato tinha sido efetuado para cumprir mera formalidade e que o que ele esperava mesmo é que eu nem tivesse comparecido.
Algum tempo depois ele retornou e já ia embarcando novamente, “de fininho”, quando o abordei:
- E a entrevista?
Percebi ligeira irritação e uma vontade de ir embora nas feições dele. Pelo que entendi, ele não gostaria de registrar uma ocorrência na qual prejudicasse direta ou indiretamente seus colegas de trabalho. Eu conheço bem esse corporativismo. Tentei argumentar:
- Olhe: fizemos alguns testes, tenho tudo registrado em vídeo. Foi um sucesso. O pessoal que utiliza o centro aprovou as providências, mas, como prevíamos, teríamos um ajuste a fazer. Um ajuste de pequeno vulto, que só depende de uma decisão administrativa e uns telefonemas. Não precisa aprovar lei nem orçamento, porque isso demoraria demais...
Aí ele me interrompeu:
- Ok. Reconheço seu empenho. Mas temos uma proposta da DFREN para acertar isso: seria a remodelação da praça, com a alteração do nome para “Praça dos Sentidos”. Não podemos perder essa oportunidade por causa dos recursos envolvidos. Se arrumarmos uma solução caseira vamos perder essa oportunidade... e tal e tal...
- Mas e, enquanto isso, os acidentes vão acontecendo?!? ...
Não adiantava argumentar mais.
Vencido, retornei frustrado.
Enquanto conversávamos, alguns cachorros chegavam acompanhados pelos seus donos para aprender a sentar. Esses, sim, eram importantes, tanto que cruzavam todo o hall de atendimento, enquanto deficientes aguardavam atendimento de um médico que não compareceu naquele dia...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A culpa é do sistema?

Naqueles dias...

Todos nós dependíamos das listagens geradas pelos computadores centrais. Eram toneladas de papeis que vinham dos CPDs e que tinham que chegar antes do horário de abrir para os clientes.

Então, quando chegavam os malotes, era uma festa! Cada departamento verificava se tinham chegado seus relatórios com os documentos pertinentes. Às vezes tinham, às vezes não. E, quando não:

- Será que vai ter retomada?

- Será que rodaram todos os sistemas?

- Liga pro ‘Seu Zec’!!

- Mas já é a terceira vez! O que é que eu vou dizer para o cliente?

- Oras, que a culpa é do ‘Seu Zec’!

Pobre ‘Seu Zec’! Às vezes ele próprio tinha que aguardar instruções de um tal de “Seu Dip”... Daí sim que era demorado...

Mas ruim mesmo era atualizar tudo provisoriamente, com anotações em letras góticas, garranchos e hieróglifos - cada um tinha uma letra mais feia que a do outro -, e pior ainda era entender aquilo tudo depois!

- “Menos tanto na conta de Fulano, mais tanto na de Beltrano... Será que rodou o INSS?“

Como mudaram as coisas, não é mesmo? E olha que o ‘Seu Zec’ já faleceu a muito tempo!

Hoje é assim:

- O sistema está fora!

Então a culpa é do “sistema”!

sábado, 12 de junho de 2010

Bom exemplo!

Meu colega de trabalho vendia pães especiais nas horas vagas.
- De ótima qualidade e procedência, dizia ele!
E vendia mesmo!
Sempre admirei seu entusiasmo com seus projetos. Antes da ocupação atual ele já tinha trabalhado com tudo. Até motorista de ônibus já tinha sido.
Segundo relatou, um dia resolveu fazer supletivos para concluir os estudos e fez faculdade de economia. Mostrou-me um TCC de muito boa qualidade. É um ótimo pensador.
Em visita à sua casa, verifiquei também que, mesmo depois de tudo isso, ele ainda tinha resolvido aprender a tocar piano, violino, e vai saber mais o quê!
Um bom amigo, um bom exemplo!

Jabulani

Sala silenciosa, ambiente de hospital.
Enquanto aguardava atendimento, uma TV mostrava Estados Unidos versus Inglaterra, pela primeira rodada da copa de futebol deste ano. Já estava 1 x 0 para Inglaterra, quando, de repente:
- Goool!!
E muitos comentários quebraram aquele silêncio imperioso.
Três garotos também viam a partida e eu já tinha percebido que eles estavam “bem preparados” para esta copa, pois usavam camiseta da seleção brasileira!
Na hora do gol, foi imediato. Um deles falou:
- Foi a jabulani! Eu nunca vou comprar uma jabulani!
Como meu neto havia me distraído na hora do lance, fiquei por entender, mas não mais do que por dez segundos.
- Que frango!
Ah, bom!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Garbage in garbage out

03 de junho de 2010

Certa feita...

O cenário era assim: quem não tinha diploma de datilografia com especialização em mecanografia e não conhecesse as Remingtons, as Olivettis e o papel carbono, se dava mal. Computador, só o central, que processava as pilhas de papéis que passávamos dias esperando retornar, rezando para que desse tudo certo.

Só que chegou a vez do computador XT, a mais poderosa máquina já aparecida até aqueles dias, e que parecia ser vendida por quilo, tamanho era o seu peso! Nós fomos escolhidos para receber uma! Lembro que nosso chefe não permitiu que nos aproximássemos das caixas que continham a poderosa máquina e os seus complementos, com medo que fizéssemos alguma besteira e estragássemos tudo... Isso foi uma frustração.  Essa pequena restrição durou mais de ano: computador encaixotado ao lado do telex.  Por isso o nosso primeiro contato com a máquina foi num ato de desobediência, atrevimento e desafio.

Depois disso, passei uns dias analisando, escrevendo e testando um programa para a empresa.  Coisa simples, feita nas horas vagas e às vezes após o expediente: um pequeno cadastro de clientes e umas rotinas que calculavam impostos e rendimentos líquidos para aplicações financeiras.

Daí chamei o meu amigo:

- Vem cá, Damião! Você vai aprender a usar e depois me falar sobre o programa que estou concluindo.

Sentado em frente à telinha CGA verde, ele observou bastante e viu que tinha um espaço para escrever o nome do cliente. Acima, uma linha informava: “Digite o nome do cliente e em seguida enter”.

Ele não teve dúvida. Escreveu: Geraldino dos Santos enter, com todas as letras... E depois ficou olhando pra mim, com olhar de interrogação: - “E agora?”

A culpa foi minha. Não tinha ficado claro pro Damião que era pra ele apertar a tecla “enter” do computador e não escrever e-n-t-e-r por extenso...

Pior de tudo foi ouvir seu comentário seguro e direto:

- Garbage in, garbage out!

Ocorrência

02 de junho de 2010

Outro dia efetuei um registro de um fator de risco num site da prefeitura daqui da cidade. Foi um exercício e tanto! Como vinha acompanhando um caso a quase dois anos, tinha inúmeros detalhes para relatar. E o fiz aqui mesmo, neste editor.  Depois copiei e colei no campo de registro da ocorrência, quando fui surpreendido pelo programa, que interrompeu o serviço e pediu pra eu resumir um pouco mais o caso... Ora bolas!

Sempre fui prolixo e vivo me policiando por isso: preciso ser mais sucinto. Mas quem diria que levaria uma bronca de um programa de computador, que o máximo que faz é contar as palavras do texto, sem se ater ao seu conteúdo?

Confesso que refiz umas seis vezes o texto, até que ele coubesse no pequeno quadrinho destinado ao registro da ocorrência.  E também acho que consegui me fazer entender, porque depois recebi uma resposta sobre o tratamento e acompanhamento da questão!

Se eu fiquei satisfeito? Claro que não.  Mas aí já é outra história.

Ribeirão das Pedras

30 de maio de 2010

Interessante!

Ontem resolvi fazer um passeio seguindo o curso de um riacho que nasce aqui pertinho de casa. Chama-se Ribeirão das Pedras.

Primeiro é uma biquinha, com água potável e muitos frequentadores.  Depois, um brejo, cheio de taboas e muito mato, onde meu cachorro já se perdeu mais de uma vez. Em seguida, um pequeno curso d´água. A menos de cem metros já dá pra ouvir o barulhinho da água passando. Depois a primeira ponte, que na realidade não chega a ser uma.

Não quis observar na ida – e nem na volta – um lago artificial formado a pouco mais de mil metros da nascente. Conheci sua origem, vi as obras para a construção da pequena barragem, percebi ali algum problema de nível, que acabou provocando um ajuste na obra de lá pra cá. Lá vivem peixes, aves e outros pequenos animais.

Depois tem o trajeto que passa ao lado do Shopping Center e vai até a rodovia, sob a qual passa nosso riacho. Procurando manter a maior proximidade com o riozinho, encontrei uma passagem sob a pista digna das piores imagens criadas por Tolkien em “O Senhor dos Anéis”.  Passei por ela morrendo de medo e somente sosseguei quando consegui sair, voltando. Prá frente não dava pra seguir. Era o fim da linha. A sensação do desconhecido era como estar encurralado... 

Tive então que abandonar o riozinho e encontrá-lo somente mais à frente, após um trecho de subidas e descidas pela nova entrada da Universidade. Lá o curso d’água já era bem maior. E também já apareciam as primeiras justificativas para o nome dado ao ribeirão: as pedras, em grande quantidade.

Vi a chegada em Barão Geraldo. Pelo caminho estranhei a cor daquela água. Vi muitas construções cujas muradas estavam sendo corroídas por baixo, quase levadas pelas águas. Vi também muitos caninhos e canões com suas “bocas” viradas para o riacho, às vezes despejando, às vezes nada...

Mais à frente, observei que tem gente preocupada com a vida do ribeirãozinho, e vi também algumas arvorezinhas recém plantadas às suas margens. Algumas traziam nomes numa plaquinha. Talvez das pessoas que as plantaram.

Na minha cabeça ficaram algumas imagens compreendidas e por compreender.

As partes naturais do ribeirão são muito mais bonitas que as partes que sofreram alguma intervenção humana.

Hoje é dia 30 de maio. Passando de carro pela região que forma o laguinho antes do shopping, verifiquei muitos carros ali parados, inclusive um da Defesa Civil. Daí também paramos para verificar o que ocorria. E lá foram minha esposa, minha filha e seu namorado. Enquanto eu fui fazer a volta com o carro, eles observaram e colheram o que se dizia de cima da pequena barragem: durante a noite alguém teria quebrado a barragem e a água toda do laguinho fluiu, quebrando todo o sistema que ali havia sido criado. Peixes morreram ou foram levados pelas águas, animais morrendo... Com certeza teremos notícias amanhã.